terça-feira, 26 de agosto de 2008

Lição tirada do Socialismo

Antes de mais nada, parabéns para a minrha prima Gudy, que, segundo seu comentário, agora vai começar a dar aula pra uma turma de 6ª série da escola estadual Plácido de Castro. E ela me pediu uma ajuda para conseguir umas doações de um livro do Instituto Souza Cruz, mais precisamente de um programa chamado "Clube da Árvore". Gudy, não conheço ninguém que trabalhe neste projeto, mas posso te dar uma força. Se você quiser entrar em contato diretamente com o autor, você pode tentar mandar um email para paulo.backes@souzacruz.com.br (geralmente lá os emails são assim), ou então paulo@paulobackes.com.br . Mas se a doação for pelo Instituto, não pelo autor, entra em contato com institutosouzacruz@institutosouzacruz.org.br que talvez eles te ajudem. Ou se algum leitor deste humilde blog de alma caridosa e que trabalhe na digníssima Souza Cruz puder ajudar a minha prima, professora de escola pública, ficaria grato. Sei lá, perguntem pra Janaína se ela conhece alguém do Instituto, já que ela é dos CORA (Assuntos Corporativos). Ou então perguntem à alguém do CPD se eles não conhecem o Paulo Backes. PLEASEEEEEEE!!!

Notei que o último post gerou um certo desconforto em alguns, já que ele toca em uma das feridas do Brasil, que é a imagem que o próprio Brasil têm de si mesmo. Como meu pai comentou, existe sim muita corrupção no Brasil, roubalheira e coisas do tipo, mas creio que nosso país poderia ser bem melhor se soubesse o potencial que possui. Potencial este que é muito conhecido aqui fora, e vocês não imaginam o quanto isto é nítido de se ver. A sensação que fica é que aqui fora o mundo todo está esperando o boom econômico brasileiro, e que todos torcem por isto. Mas parece que este boom não acontece justamente por este sentimento nosso de que somos inferiores aos outros, quando muitas vezes nós não somos.

Para ilustrar como as coisas no Brasil podem melhorar, vou usar a Alemanha como exemplo, afinal estou em terras germânicas. Como todos sabem, a Alemanha vou devastada depois da 2ª Guerra Mundial, e logo após dividida em Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental (chamada aqui por DDR), sendo um lado capitalista e outro lado socialista. Até aí, nenhuma novidade. E mesmo destruída, a Alemanha conseguiu se reerguer (tá certo que teve uma FORTE ajudinha do Tio Sam, mas o que importa é que se reergueu), sendo que o lado capitalista cresceu mais rápidamente que o outro. Agora que vêem o ponto aonde quero chegar... Ao se reunificar, a Alemanha enfrentou uma forte onda de desemprego, pois não havia como os oriundos da Alemanha Oriental competir no mercado de trabalho com o lado capitalista, mais evoluído. E foi ai que este país aprendeu o quanto é importante trabalhar o lado social, não só por ter incorporado um pouco dos ideais da DDR, mas sim por pura necessidade. E creio que a Alemanha conseguiu atingir um patamar de "equilíbrio" entre os dois lados.

Vocês não fazem idéia de como existe trabalho social aqui na Alemanha. Para exemplificar, só aqui perto de casa existe uns não sei quantos lugares de auxílio social. Um é tipo Casa de Auxílio ao Jovem, ou então Departamento de Ajuda Social, e por aí vai. E buscando outro exemplo, conheço muita gente aqui que estuda Sozialarbeit, que seria uma espécie de Serviço Social no Brasil. Pois é, aqui este curso é muito procurado, e pelo visto é uma carreira boa até. Já no Brasil, se alguém te diz que estuda isto, logo pensamos algo do tipo: "Tae mais uma Madre Tereza de Calcutá!", como se fosse mais uma doação do que uma carreira estudar isto. (Desculpem-me aos que estudam isto, mas pelo menos fui franco). Fica até uma cena engraçada no ar: no Brasil, que este trabalho é necessário (e muito), ele não é valorizado, e aqui, que possa até ser excedente, é uma área de muita procura.

Outro fator social que faz da Alemanha forte é a educação. Outro dia em aula estávamos discutindo o quanto custava criar um filho em cada país. Descobri que na Inglaterra é muito caro criar um filho, já que quase não existe ensino público. Porém a carga tributária é bem menor, o que acaba deixando elas por elas. E, segundo minha professora, aqui na Alemanha é o contrário. Segundo ela, mãe de uma criança de 4 anos, todo o ensino escolar é gratuito e de qualidade. Lógico que isto é resultado de uma carga tributária altíssima, se comparada à aplicada na Inglaterra, porém o retorno é nítido. Muitos agora devem estar matutando ao ler isto: O Brasil tem mais é que se f%¨#$ mesmo, pois a carga tributária é alta e o retorno é zero... , mas não é neste ponto em que eu quero chegar. E sim só salientar o quanto estamos presos num ciclo vicioso, onde cada vez mais gastamos dinheiro em segurança para nos proteger de assaltos, para tentar driblar um problema gerado muito antes, que é a desigualdade social. Ou seja, buscamos a solução do efeito, e não da causa.

Mas não pensem que o "socialismo" alemão é só um mar de rosas, não. Isto gerou um número alto de desempregados por opção, que é aquele carinha que não trabalha porque não gosta, e vive do auxílio governamental. Sim, o nosso famoso Bolsa-Família. Mas pelo menos aqui este sujeito não rouba, pois antes de ele chegar ao ponto entre escolher entre trabalhar ou não ele passou por um forte elemento culturalizador chamado ESCOLA. Elemento este muito discutido aqui também: a escola e seu papel, ou em outras palavras, o que é educar? É transmitir só conhecimento, ou junto com ele transmitir cultura. Pois creio que no Brasil existe uma cultura muito ruim para o país, que é a conhecida cultura do malandro. Sempre tirar vantagem de tudo. Seja na política, vida pessoal, ou o escambal. Cultura esta que, na minha opinião, só conseguiria ser combatida com escola. E ponto.

E tocando no assunto cultura, talvez um dos resultados notáveis desta "culturalização em massa" proporcionada na Alemanha é o interesse pela política. Todo dia no Tagesschau, que seria um Jornal Nacional deles, quase um terço das notícias são sobre política. De repente até seja por falta de assunto, mas creio que é mais porque o pessoal realmente é interessado. Senão eles encheriam lingüiça com outro assunto, né? Mas neste tema não vou me aprofundar muito porque no campo política o nosso desinteresse possa ser muito bem justificado pela nossa descrença na máquina política brasileira. Mas fica uma dúvida no ar: por não acreditarmos no nosso sistema político, será que daí sim não deveríamos prestar mais atenção?

Bom, este post foi só pra finalizar o assunto levantado pelo post passado, já que senti que o texto havia deixado esta bola picando. Só achei que seria válido trazer este comparativo entre trabalho social aqui e trabalho social no Brasil. Prometo que da próxima vez escrevo sobre um assunto mais divertido. Mas foi só um desabafo de alguém acredita no Brasil.