domingo, 29 de agosto de 2010

De suspeito à celebridade

Pois é, indo do oito à oitenta em um único post!!

Depois de ser suspeito de assassinato ou de homem-bomba, agora chegou a vez de virar celebridade.

Como falei há dois posts atrás, vivo numa rua que lembra a vila do Chaves, chamada Cycle Society. E através das peladas de futebol num campinho improvisado na calçada desta rua, com o pessoal que mora na rua mesmo, que se formou um time de futebol: o CSGS - Cycle Society Green Sox. Pois bem, depois de ter jogado umas peladas no campinho, fui convidado para fazer parte do time e jogar um campeonato de Street Football (sim, não é soccer, é football mesmo - soccer é só nos EUA) em um clube grã-fino que tem até um hotel dentro. Detalhe pro nome do clube: Corinthians Club! ........... Timãoooooo, eeeeoooooooo!!

Olha eu de Green Sox fluorescente!

E aqui uma foto do Corinthians Club. Pelo menos este Corinthians é chique...


Faltou só ensinar pra indianada o que é Street Football: pegaram DUAS quadras de tênis, o que deixou o campo GIGANTE, colocaram uma rede na volta e construíram goleiras MINÚSCULAS, onde o travessão batia na nuca do goleiro e se ele abrisse os braços que nem cristo encostava nas duas traves. E agora vem o detalhe maior: UM POSTE DE LUZ NO MEIO DO CAMPO! E ainda com a caixa de luz na altura da cabeça! A Índia me surpreende a cada dia.

Notem o poste de luz no meio de campo, com caixa de luz e tudo!

O campeonato começou na fase de grupos, com três times por grupo. O que me deixou mais tranqüilo, pois pelo menos nos garantia jogar pelo menos duas partidas. Já pensou cair fora logo no primeiro jogo? Triste, né? E pra ficar mais tranquilo ainda, se classificavam pra próxima fase os dois primeiros de cada chave, logo só perdendo as duas pra cair fora. Mas como nosso time não era tão ruim assim, ganhamos a primeira partida no sufoco por 2 x 1, sendo que o gol que levamos foi contra do nosso goleiro (confiram o video abaixo). Já a segunda foi mais fácil, 3 x 1 ou 4 x 1, não sei direito. Teve um gol polêmico nosso, daqueles que fica a dúvida se a bola entrou ou não, que metade do time jura que o juiz anulou o gol, outra metade jura que foi válido.


Gol contra do Rakesh

Antes de passarmos pras quartas-de-final, faltou eu comentar uma coisa: pra quem mais corria do que jogava bola, agora a proporção inverteu. Mas não pensem que meu futebol não melhorou, muito pelo contrário, não consigo correr mais nada! Jogava dez minutos de partida e já tava morto. Então era substituído e só entrava no segundo tempo. E mais 10 minutos pro véio e banco de novo. Também, além da quadra ser gigante, a bola não saía nunca, pois não tinha lateral nem linha de fundo. Ou seja, o jogo não parava nunca. Outro ponto: indianada corre pra CARAL*&#^@!

Chopsy e Rakesh esperando a partida começar

Quartas-de-final, jogo pegado. Time bem preparado fisicamente, bem organizado estrategicamente, marcação homem-à-homem. Conseguimos fazer um golzinho no início do jogo, tabelinha entre eu e o atacante Madhu, chute no canto e goooooooolll! Depois disso fechamos uma retranca e o placar ficou por isto mesmo: 1 x 0 pros CSGS e lá fomos nós pra semi-final.

Antes da semi-final, confusão no campeonato. Todos os outros times que passaram para as semi-finais eram de profissionais, com jogadores que jogavam campeonatos como este por dinheiro. E o único time amador era o nosso, Logo, tooooodo mundo queria jogar contra a gente, pois éramos o time mais fraco. Mas eles mal podiam por esperar...

... mal podiam por esperar pra chegarem na final mesmo, porque tomamos um sacode na semi-final: 4 x 1, sendo que mal encostávamos na bola! Um fiasco! Logo de cara já tomamos dois gols, nos perdemos em quadra, uma vergonha. E logo agora que o véio tava começando a melhorar o preparo físico. Nosso consolo é que nas partidas anteriores este time ganhou de 7 x 0 e outros placares do tipo. E ainda foi campeão, ganhando a última partida por 2 x 0, então nem fomos tão mal assim. E pelo menos o artilheiro do campeonato foi do nosso time, Madhu, com sete gols.

Foto do CSGS junto com a torcida da Cycle Society

Mas vocês devem estar se perguntando: onde entra a celebridade na história? Bom, por ser o único western do campeonato, todo o foco era pra mim. E depois de algumas partidas e coisas básicas de futsal (que eles não manjam nada aqui), virei BBB do campeonato. Nosso time foi até apelidado de Germany, por causa de mim e porque nossa camiseta lembrava o uniforme reserva da Alemanha. E depois das partidas as pessoas vinham me cumprimentar e tudo! Teve até um tiozinho, daqueles indianos meio lesados, que veio me dizer que era fã do meu futebol e que tava lá só pra me ver. Me perguntou ainda que dia seria minha próxima partida, e depois que respondi que seria no dia seguinte ou um dia depois, ele me disse: "Então vou vir amanhã e depois de amanhã só pra garantir!!" Por fim, tirou uma foto comigo! Hahahahahha vê se pode. Faltou só dar autógrafo!

Em terra de cego, quem tem um olho é rei!

sábado, 21 de agosto de 2010

O Suspeito

Mais um episódio da Operação "Ressuscitamento do Apartamento": depois de limpar a cozinha e a área de serviço (a máquina de lavar roupas tá até funcionando agora!), neste sábado foi a vez de atacarmos uma das melhores peças do apartamento, o terraço. Não é muito grande, mas tem um ar muito agradável, com uma árvore de um lado (lotada de corvos!), e do outro lado é a vista para rua. Mas é uma ótima área pra reunir o pessoal, relaxar e até pendurar um varal.


Só que o terraço, ao invés de ter o propósito descrito acima, tinha sido transformado em entulho de tralhas. Gavetas velhas, cortinas, almofadas, ventilador, tudo no relento (ok, aqui não tem relento). Algumas coisas ficavam na área descoberta, tomando chuva, então imaginem o estado.


Agora vem a peça principal das tralhas, que até rendeu um episódio engraçado: a cama. Sim, haviam duas camas na área descoberta, tomando chuva por mais de anos. Uma estava sem colchão, então só ficou um pouco enferrujada, mas a outra... O colchão virou um mini-biosistema. Até umas pequenas plantas e cogumelos já tavam começando a brotar do colchão. Sem contar no viveiro de lagartas e centopéias, que brotavam dos buracos que um dia foram a espuma do colchão. Um nojo.


Peguei um pedaço de cano velho e comecei a tentar tirar o colchão. Ao invés de ele sair inteiro, ele começou a se desintegrar, e a cada tentativa de levantar o colchão ele se despedaçava todo. Ou seja, não dava para arrastá-lo. Eis que o André, o brasileiro que mora comigo no apartamento, teve a brilhante idéia de usar uma das malas abandonadas pelo pessoal que foi embora pra colocarmos o colchão dentro. Então encostamos a mala do lado da cama e começamos a arrancar os pedaços do colchão e jogar dentro da mala.





Depois de concluído, fechamos a mala e levamos pro container onde joga o lixo. Este container nada mais é que um tele-entulho que nem nós temos no Brasil, onde todo mundo joga todo o lixo, orgânico, seco, metal, tudo misturado. Só que este FDP do container fica fora da nossa rua, há uns 100 metros de casa. E a mala ficou pesada pra caralho e ainda tava com as rodinhas quebradas. Então arrastamos a mala rua afora até o container. E depois ainda apanhamos pra jogar pra dentro do container.

Este é o tal do container!



E aqui é dentro do container, mas no dia tava sem o cachorro (Desculpem, mas não deu pra virar a foto).


Agora vem a parte engraçada: depois de concluído o serviço, demos as costas pro container e começamos a voltar pra casa. Eis que nos pára a Polícia e nos questiona: "O que tem naquela mala?". Não acreditando ser um colchão velho, nos mandam tirar a mala de dentro do container e abrir. Continuamos a dizer que era só um colchão velho, mas no fim não adiantou nada. Tive que pular de chinelo pra dentro do lixão (que nooooooooooojo) e abrir a mala. O policial ainda insistia em tirarmos a mala, mas conseguimos convencer ele a olhar de fora. Então abro a mala e começo a arrancar os pedaços do colchão com a mão, com lagartas, centopéias e tudo (outro noooooojo). Convencido, o policial foi embora e eu direto pro banho.


Duas coisas: ou ele achou que era um cadáver, ou uma bomba. Maldito colchão.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Living at the Cycle Society

O nome até parece algo do tipo "Sociedade dos Poetas Mortos", ou alguma seita esquisita, mas Cycle Society é o nome do bairro que eu moro. Na verdade o bairro se chama Camp, e Cycle Society é o nome da rua, mas como ela é uma rua fechada, sem tráfego externo de carros, ela fica parecendo meio que a vila do Chaves. Só trafega aqui quem é da rua mesmo, o que nos deixa afastado do caótico trânsito indiano.





Exibir mapa ampliado
A rua onde eu moro não aparece no Google Maps, mas sinalizei os dois portões de entrada da rua. Então dá pra ver que os dois pontos sinalizados seriam as pontas de uma rua em formato "U", com uma árvore bem na ponta. Eu moro na frente da árvore.




Moro no apartamento da AIESEC, que pra quem não sabe é a organização pela qual eu vim pra Índia. É um apartamento justamente para estrangeiros que vem fazer seu traineeship aqui, então isto aqui acaba sendo uma torre de babel. Gente de vários lugares do mundo, de diferentes culturas. Neste momento divido o apartamento com um brasileiro (o André), um chinês, um polonês (sempre tem um polonês), uma finlandesa (que não mora no apartamento mas é vizinha), e 4 pessoas do Casaquistão (um até lembra o Borat, igualzinho). Além de um pessoal que visita a gente direto, uma alemã que namora um indiano, uma ucraniana que também namora um indiano, e mais um monte de indiano.

O apê é grande, dois andares, com um terraçinho e tudo. Mas tem um grande problema: NUNCA fizeram uma faxina no apartamento. Não tô exagerando, o negócio é tão sujo que tem umas teias de aranhas tão bem trançadas que parecem tecido. Sem brincadeira. O pessoal que mora/morava aqui antes é muito porco e relaxado, então faxina que é bom nada.

Mas eu e o André começamos a mudar as coisas por aqui. Ontem de manhã começamos um faxinão, ele atacando a cozinha e eu um ex-banheiro que foi transformado em uma espécie de área de serviço. Nossa intenção até era limpar outros cômodos, mas a sujeira era tão intensa que só conseguimos limpar um só neste dia. Mas aos poucos a gente vai dando o devido padrão de higiene ao apartamento.

Uma coisa boa da Cycle Society é que bem na frente do apê tem um patiozinho, onde quase todos os dias o pessoal da rua joga bola. Então dá pra cuidar da janela quando a pelada começa, descer as escadas e bater uma bolinha. Até achei que nem ia ter muito futebol nesta minha vida indiana, já que o país não tem uma tradição muito forte em futebol, mais conhecido mesmo pelo cricket (o maior e mais rico campeonato de cricket do mundo é o indiano). Mas, para a minha surpresa, o pessoal aqui acompanha futebol, e, por herança do Raj britânico, todo indiano torce para um time inglês e também acompanha a Premier inglesa. Já em relação às habilidades futebolísticas, eles tem ainda muito para evoluir.

Fico devendo umas fotos, já que post só com texto é muito chato.

E feliz dia dos pais pro meu papi, o Frede da Koseritz! Não deu pra te ligar porque tá dando pau as ligações internacionais Índia-Brasil. Tu disca um número e cai em outro número. Quase fiquei sem crédito tentando ligar pro meu pai. Mas fica registrado aqui meu abraço!