segunda-feira, 2 de junho de 2008

Cultura alemã

Bom, ultimamente tenho só descrito fatos que tenho presenciado, como viagens, churrascos, tragos, etc... Mas hoje um fato bem legal que me aconteceu me deu vontade de contar sobre a cultura alemã, e algumas diferenças que existem em relação a nossa cultura. Não que haja um grande buraco entre a cultura alemã e a nossa, mas existem coisas pequenas que chamam bastante atenção. E lógico, existem muitas semelhanças, pois no sul a cultura alemã é muito forte.

O fato que me fez ter vontade de escrever sobre cultura foi o meu almoço de hoje. Sim, um simples almoço. A Marielle me levou hoje a um restaurante típico alemão, pois não tinhamos nada pra almoçar em casa e os outros moradores do apartamento tinham outros compromissos (o Robert tinha um torneio de SCART, que é um jogo de cartas, e a Caro tinha um almoço da família dela). O nome do restaurante não lembro direito, mas acho que era Das Gemalten Haus, uma casinha com as paredes todas pintadas com gravuras coloniais alemãs, com o interior cheio todo enfeitado de madeira, ou seja, tudo muito alemão. Lá dentro, só se via as cabecinhas brancas, muitos velhinhos comendo o seu almoço de domingo lá. E os garçons todos alemães natos, com uma antipatia mas tão antipática que chegava a ser engraçado, e acho que esse era o objetivo deles. Quanto mais antipático o garçom for, mais engraçado era. Por exemplo, pedimos 2 Apfelwein (vinho de maçã), que é bem tradicional aqui de Frankfurt, e 2 Handkäse mit Musik, um queijinho mergulhado no óleo com bastante cebola que se come com pão. Aliás, diz-se aqui que esse queijo é mit Musik (com música) pois sempre que se come, junto com ele vêem a música junto. Sim, a música estomacal... peidos e peidos, e bem fedidos por sinal. Pois neste momento estou tendo o prazer de escrever este texto sentindo os efeitos colaterais da culinária alemã.

Voltando ao garçom, pedimos os dois queijos e falamos pro garçom que após a chegada do queijo pediríamos os demais pratos. Olhamos o cardápio, decidimos o que queriamos comer, e chamamos o garçom pra pedirmos os resto. E o garçom responde: "Vocês falaram que ia pedir quando os queijos chegarem, e como os queijos não chegaram, vocês vão ter que esperar." Mas ele falou com uma seriedade tão alemã que eu e a Marielle caímos na gargalhada, pois aquilo é o alemão tradicional escrito. Não que eles façam por mal, mas é que eles são assim mesmo.

A comida foi purê de batata (tinha que ter alguma coisa com batata), costela de porco com Sauerkraut (sim, Sauerkraut é chucrute), e ovo cozido com molho verde. Pra temperar, mostarda. E pra beber, o tradicional vinho de maçã de Frankfurt, amargo mas gostoso. Tudo bem tradicional, bem gostoso, mas bem pesado... e faz uma "música" que é uma beleza.

Então, inspirado nesse banho de gastronomia alemã, resolvi escrever sobre cultura. Pra começar, nem todo povo alemão veste Lederhosen, aquelas calças verdes que se usa com suspensórios. Esta roupa é tradicionalmente da Bavária, então se você comentar com alguém que não é da Bavária sobre aquelas roupas não será muito legal, porque pra ele aquilo não é cultura dele, e sim da Bavária. É como se eu comentasse com um baiano sobre bombacha. E sobre Oktoberfest, todos alemães ficam espantados quando digo que no Brasil comemoramos Oktoberfest. Principalmente aqui em Frankfurt, pois Oktoberfest não culturalmente deles, e sim da Bavária. Então eles respondem sempre: "Vocês comemoram lá, e eu nunca fui na festa daqui!!!! Komisch!!" Komisch é estranho, mas que significa também engraçado.

A Alemanha lembra muito aquela lenga-lenga espanhola, catalão é diferente de galego, que é diferente de basco, que é diferente de espanhol. Aqui é assim também. Quem é de Bayern é diferente de quem é de Hessen, que é diferente de que é de Bradenburg e por ai vai. Cada um com seu próprio dialeto, que geralmente é muito influenciado pelos países que fazem fronteira com a região. Na fronteira com a França o alemão é muito parecido com a França, na fronteira da Holanda parece-se muito com o holandês, e assim por diante. Mas na tv e nas grandes cidades todos falam a mesma língua, Hochdeutsch. E isto achei muito interessante aqui na Europa, todos os países são meios misturados. Aqui em casa a mãe da Marielle é francesa, o pai da Caro é húngaro e o Robert é polonês, mas mora desde os três anos na Alemanha. Acho que no passado o Brasil era assim, mas hoje em dia todo mundo é brasileiro, e os pais são brasileiros, e os avós são brasileiros, e por ai vai. Só a Gabe, namorada do meu irmão que o pai é uruguaio.

Cerveja... sim, aqui é o país da cerveja. Bebum feliz é bebum alemão. Muitas marcas de cervejas, com vários tipos de cervejas e respectivos copos para respectivas cervejas. De marcas temos Beck´s, que é a pilsen mais consumida aqui, bem boa. Continuando nas pilsens tem a Binding, a BitBurguer (que possui variações como a Bit's SUN, por exemplo, que é misturada com cachaça e no slogan diz: um pouco de brasil na cerveja), Pfüngstander (que parece a Heineken brasileira), Krombacher... Das Hefe-weizen temos duas vertentes: as Hell (claras) e as Dunkles (escuras). A Hell mais famosa é a Erdinger (minha preferida, que eu aprendi a tomar ainda na Souza Cruz nas épocas de balanço de matéria-prima com o César Martins e os Márcios Morais e Bom). Mas das Hefe-Weizen ainda temos a Schöfferhofer, a Franziskaner, a Oeddinger (que é ruim), ...E as Hefen-weizen tem que tomar no copinho tradicional aquele de 0,5 l, então todo mundo tem que ter o copinho. No video na seqüência aparece o Beckenbauer tomando uma Erdinger neste copinho. Outra coisa aqui é que as tampas das long-necks não são rosqueáveis como no Brasil. As tampinhas são iguais as das garrafas grandes, que só são abertas com abridor. Mas isto tem um motivo: todos os alemães conseguem abrir garrafas com qualquer coisa, isqueiro, garfo, celular, uma garrafa com a outra, até com os dentes (mas este não vi ainda). Até as mulheres sabem abrir com qualquer coisa, o que me deixa na pressão pra aprender. Já arranquei um pedaço de um dedo tentando uma façanha dessas.



Bom, existem mais um montão de coisas pra escrever, mas agora enchi o saco de escrever. Então assim que me der vontade de novo, escrevo mais.

Bjs.